Programa do Ministério da Saúde é identificado por organizações da sociedade civil como uma alternativa à carência de médicos no interior dos estados
Em meio à disputa entre o Ministério da Saúde e as entidades corporativas dos médicos brasileiros em torno do programa Mais Médicos, a chegada de profissionais, brasileiros ou não, para atuarem na atenção básica é vista de forma positiva por ONGs e entidades que atuam em regiões carentes e distantes dos grandes centros.
A nova polêmica vem do anúncio feito nesta quarta-feira (21) pelo governo de um acordo com a Organização Pan-americana de Saúde (Opas) para trazer ao país até 4 mil profissionais cubanos ainda neste ano. Aberto primeiramente para inscrição de médicos brasileiros, dos 1.557 municípios considerados prioritários, 703 não foram escolhidos por nenhum profissional e devem receber os primeiros profissionais cubanos, com grande experiência em atenção básica.
Para Alexandre Pires, coordenador geral da ONG Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, existe uma carência enorme de atendimento básico. A entidade possui sede em Recife (PE) e trabalha diretamente com habitantes de pequenas cidades do interior que dependem da agricultura familiar. “Não é incomum haver apenas um médico de plantão em uma unidade de saúde, sendo que normalmente esse médico atende de forma bem genérica e obviamente não dá conta da demanda dos municípios”.
Para Alexandre, não podemos apenas levar em conta o tratamento das doenças, mas também a prevenção. “É preciso considerar o contexto social e as práticas alimentares que levam a determinadas enfermidades. Precisamos de ação educativa e preventiva por parte dos médicos. A ausência dessa atenção básica acaba gerando um conjunto de problemas maiores para a população e um custo muito mais alto para o estado quando tem que arcar com especialistas”.
> Acesse o depoimento de Alexandre Pires
Joselito Luz, diretor da Associação das Pessoas com Albinismo na Bahia (APALBA), vê de perto o problema da carência de profissionais especializados. Membro de uma entidade que representa um segmento historicamente excluído, principalmente no interior dos estados, Luz alerta para a necessidade do atendimento básico mesmo em casos mais raros como o albinismo.
“O Mais Médicos ajudaria pelo menos a garantir o atendimento preliminar e essencial. Desde que eu acompanho esse debate vejo que a classe médica privilegia muito o lucro decorrente de exames e procedimentos mais complexos, já que o atendimento básico não gera dinheiro para o profissional. A prevenção, que garantiria qualidade de vida e redução dos casos de emergência, é rejeitada por uma lógica capitalista”, afirma Joselito. Para ter o acesso ao atendimento, por exemplo, a APALBA conseguiu fazer um acordo com o estado e com unidades de saúde especializadas da Bahia. No entanto, essas instituições exigem laudos difíceis de conseguir por conta da falta de médicos.
> Acesse a íntegra do depoimento de Joselito Luz
A realidade da falta de médicos não é diferente no sul do país, como relata Valdevir Both, do Centro de Educação e Assessoramento Popular (CEAP), e a falta de estrutura não é o motivo. “No Rio Grande do Sul tem municípios que chegam a oferecer R$ 20 mil por mês de salário, com estrutura adequada, com ambulância equipada para os encaminhamentos necessários, e mesmo assim não encontram interessados. Alguns municípios optaram em pagar o curso de medicina para seus estudantes a fim de futuramente garantir atenção médica aos seus habitantes”, afirma.
Em sua avaliação, o mérito do Mais Médicos está no fato de finalmente o Estado brasileiro assumir a responsabilidade de controlar uma das categorias profissionais centrais para o sistema público de saúde. “O que tem acontecido até agora é a categoria médica regulando o mercado da medicina, num corporativismo cujas consequências hoje são visíveis na ausência de profissionais interessados em trabalhar no Sistema Público”, afirma. “O Mais Médicos representa o primeiro passo para dizer aos profissionais nossos que se negam a trabalhar que se eles não têm interesse, o Estado brasileiro vai buscar mecanismos para atender essa demanda e não será mais a corporação que irá condenar milhares de cidadãos à falta de atendimento médico”.
> Acesse a entrevista com Valdevir Both
Como as entidades citadas, muitas outras Organizações da Sociedade Civil trabalham diretamente com a população mais afetada pela falta de médicos e podem fornecer uma visão diferenciada sobre o impacto do Programa Mais Médicos.
Conheça algumas e seus contatos na lista abaixo:
APALBA – Associação das Pessoas com Albinismo na Bahia
Organização que tem por finalidade informar, proporcionar serviços médicos, apoiar as famílias para orientação escolar e profissional, reabilitar a imagem e facilitar a integração social de pessoas albinas.
(71) 3016-5276
Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá
Trabalha para promoção da agricultura familiar dentro dos princípios da agroecologia desenvolvendo e multiplicando a Agricultura Agroflorestal, também conhecida como Agrofloresta ou Sistemas Agroflorestais.
http://www.centrosabia.org.br/
(81) 3223.3323 / 3223.7026
Centro de Educação e Assessoramento Popular (CEAP – RS)
Entidade que busca sistematizar práticas de educação popular e promover a formação de sujeitos sociais populares.
http://www.ceap-rs.org.br/
(54) 3313-6325
Lúpicos Organizados da Bahia (Loba)
É uma entidade civil sem fins lucrativos que congrega pessoas portadoras de LÚPUS em suas diferentes formas, seus familiares e a comunidade médica.
http://www.lobalupicosdabahia.blogspot.com.br
(71) 3221-2593
Movimento de Reintegração de Pessoas Atingidas pela Hanseníase (MORHAN)
É uma entidade sem fins lucrativos voltada ara a eliminação da Hanseníase, através de atividades de conscientização e foco na construção de políticas públicas eficazes para a população. Luta pela garantia e respeito aos Direitos Humanos das pessoas atingidas pela hanseníase e seus familiares.
0800.026.2001 / 021 2502.0100
Associação dos Amigos do Autista da Bahia (AMA- BA)
Entidade sem fins lucrativos que realiza atendimento pedagógico diferenciado e, através deste, busca saúde, lazer, trabalho e inserção social à pessoa com autismo.
(71) 3363-4463
Centro das Mulheres do Cabo
Entidade com compromisso de promover a defesa dos direitos humanos das mulheres. Realiza atividades voltadas para formação em direitos sexuais e reprodutivos.
http://www.mulheresdocabo.org.br/
(81) 3524-9171
Grupo de Apoio à Prevenção à Aids da Bahia (GAPA – BA)
Entidade que busca desenvolver estratégias articuladas de educação para prevenção à Aids, assistência e defesa dos direitos das pessoas infectadas e afetadas pela aids e ação política, visando o controle da epidemia de Aids, especialmente para os setores mais pobres e excluídos.
https://www.facebook.com/gapabahia
(71) 3328-9200