A assistente social Marilene Maia, professora na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) e coordenadora do Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos (ObservaSinos), entende que os termos “missão” e “gestão” não podem ser dissociados. De acordo com ela, missão vem do latim mittere, que significa “enviar, mandar, dispensar”. Gestão, por sua vez, vem do latim gestio, “ato de administrar, ato de gerenciar”, e tem relação com a expressão gerere, “levar, realizar, fazer”. Marilene cita Dalton Valeriano, que afirma: “missão é, em essência, o propósito da organização”. Cita também Pavani, Deutscher e Lopes: missão “é a projeção da organização na visão do mundo e o papel que ela exercerá”. Na avaliação da professora, a missão de uma organização tem a ver, portanto, com “envio, propósito, conteúdo”.
Na ótica dela, a gestão da Cáritas está relacionada com quatro conceitos distintos: temporalidades, territorialidades, temáticas, agentes e relações. Marilene enfatiza que, na sociedade moderna, a organização das instituições se dava por disciplinas, o comportamento era regrado e previsível, a ênfase estava no conhecimento e no saber. Já na temporalidade da sociedade contemporânea, a organização é interdisciplinar, há crise da autoria e da autoridade e a ênfase está na informação (infomania). É com esta temporalidade que a gestão da Cáritas, e das demais instituições, deve lidar.
Marilene, que apresentou o painel Gestão da Rede Cáritas junto com Aguinaldo Lima, diretor-tesoureiro da Cáritas Brasileira, na XX Assembleia Nacional, ilustra o conceito de territorialidades com uma frase de Eduardo Galeano: “um olho no microscópio e outro no telescópio”, e o conceito de temáticas com uma frase de Marcelo Medeiros, professor de Sociologia na Universidade de Brasília (UnB): “a desigualdade tem mais a ver com os ricos do que com os pobres”. Os/As Agentes Cáritas e as relações que formam constituem a Rede Cáritas, que atua nas temáticas sociais que envolvem as populações em situação de vulnerabilidade social e busca compreender a realidade com foco tanto na conjuntura local quanto global – o “glocal”, como afirma Marilene.
Avanços na Gestão
Aguinaldo Lima pontuou os avanços obtidos nos últimos quatro anos na gestão da Rede Cáritas, citando: a maior presença da organização nos diversos territórios, principalmente no Norte (o que era tido como um desafio para a instituição), o uso da sede nacional, em Brasília, como local de encontro de toda a rede (o que já era feito antes, mas foi consolidado na atual gestão) e o fortalecimento das relações institucionais com a Igreja, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic), a sociedade civil organizada e o poder público (resultando este último no financiamento estatal e na troca de experiências para a gestão das políticas públicas).
Para que fossem obtidos avanços na gestão, Aguinaldo lembra que foram adotadas algumas ferramentas administrativas, como a coordenação colegiada, a formação dos inter-regionais e os colegiados ampliados. Entre as tantas melhorias ainda a serem implementadas, ele pontua: a comunicação entre as instâncias; a vivência da identidade Cáritas no cotidiano da rede; a visibilidade das ações da rede por meio de sistematizações e relatórios anuais; a organização regional; a construção de estratégias de sustentabilidade financeira; as exigências para acesso, gestão e prestação de contas dos recursos usados, principalmente de origem pública; a adequação institucional à Lei 13.019 (novo marco regulatório), que entra em vigor em 2016; maior participação nas lutas dos vários movimentos sociais; qualificação da participação nos espaços de controle social.