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Panorama da Mídia: Semana de Mobilização Indígena tem grande repercussão no noticiário

Levantamento do ISA mostra mais de 90 matérias nos dias próximos da semana, iniciada em 1º de outubro. Marco Regulatório também segue ocupando espaço, com tramitação no Legislativo

Análise da cobertura da imprensa sobre os principais temas em pauta na sociedade – Quinzena de 1º a 15 de Outubro

O período foi marcado por grande mobilização de ONGs e movimentos para a Semana Nacional de Mobilização Indígena, que realizou uma série de atos em várias capitais na luta pelos direitos dos povos indígenas. Em especial, a mobilização se opunha fortemente à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215, defendida pela bancada ruralista, que visa transferir do Executivo para o Legislativo a decisão sobre demarcação de terras indígenas.

A Semana ganhou bastante destaque na imprensa, como mostra levantamento feito pelo Instituto Socioambiental (ISA), entidade que foi uma das principais articuladoras da semana. Entre os dias 30 de setembro e 10 de outubro, foram mais de 90 matérias publicadas em jornais, revistas e sites tradicionais e veículos regionais a respeito do tema. A abordagem de uma forma geral foi correta, com alguns destaques negativos e positivos.

A revista Carta Capital fez uma cobertura bastante interessante dos protestos em seu site, abrindo espaço para lideranças indígenas como Sônia Guajajara, da APIB, e especialistas próximos(as) das ONGs, como o antropólogo Beto Ricardo, um dos fundadores do Instituto Socioambiental. Ainda no site , o blog de Felipe Milanez tratou o tema em profundidade e sempre da ótica dos indígenas, com uma série de entrevistas com seis ex-presidentes da FUNAI. No fim da semana, a Carta Capital também publicou matéria de 3 páginas sobre as mobilizações e as pautas do movimento.

A Folha de S. Paulo fez uma boa cobertura da semana, com matérias contextualizadas e sem editorializar os fatos de forma negativa para os/as indígenas. No dia 30, véspera da mobilização, a Folha fez uma matéria bastante informativa, com sua tradição de condensar informação em mapas e infográficos. O único equívoco aqui foi uma certa diminuição do papel dos agricultores articulados na Bancada Ruralista nos ataques aos direitos indígenas. Nesse sentido, o ato na CNA foi importante para deixar claro o conflito com os/as ruralistas e fazer a imprensa dar nome aos deputados e deputadas que defendem a PEC 215.

A BBC Brasil trouxe uma boa matéria com o histórico recente em torno da PEC 215, incluindo as pressões ruralistas, a proposta do governo de modificar o processo de demarcação e a reação indígena. A cobertura positiva ampliou-se com essa entrevista com a presidenta da Funai.

A Agência Brasil acompanhou de perto as atividades e desdobramentos políticos em Brasília, trazendo aspectos até então menos conhecidos, como a proposta do deputado Nilmário Miranda de criação de uma cota de vagas para indígenas na Câmara. No primeiro dia de protestos, esta matéria da Agência Brasil garantiu grande alcance pa ra a notícia. Reproduzida por pequenos e grandes veículos de todo o país, a agência governamental merece atenção especial em toda estratégia de mídia.

A ação do Greenpeace, que pendurou uma bandeira com uma foto de um indígena no mastro da Praça dos Três Poderes, alcançou grande repercussão no primeiro dia de mobilização. Movimentos dos próprios índios, como a APIB, também estiveram bastante representados nas matérias, mas não com o mesmo destaque.

Superficialidade e conservadorismo

Entre os grandes jornais, destaques negativos para esta matéria de O Globo, que registrou o dia de manifestações em Brasília com uma matéria superficial. O início mostra o enfoque no lado “curioso” das vestimentas dos/as indígenas, deixando de lado a contextualização do protesto nacional e o histórico da questão. O Estadão também trouxe apenas texto curto e protocolar.

O centenário jornal da família Mesquita também mostrou seu lado em matérias de tom crítico sobre as intervenções no Monumento às Bandeiras. A matéria indica que o jornal destacou uma equipe de jornalistas para cobrir os desdobramentos do fato, apurando o processo de limpeza pela Prefeitura e entrevistando o filho do autor da obra, Victor Brecheret. As manifestações foram classificadas como “atos de vandalismo” pelo jornal.

Do mesmo grupo, a Agência Estado foi bastante repercutida com este texto sobre a proposta de criação de cotas para indígenas no Congresso. A matéria destaca a crítica de um deputado da bancada ruralista, sem ouvir os parlamentares autores ou lideranças indígenas.

Por fim, o comentarista político Cláudio Humberto tratou com cinismo a mobilização, dizendo ser motivada pela perda de poder da Funai e ONGs com a aprovação da PEC215.

Mídia regional

O protesto teve sucesso em alcançar veículos regionais em Roraima (cujo texto deu bastante apoio às pautas indígenas), Amazonas (que noticiou um seminário com intelectuais indígenas), Acre (tamb&e acute;m em tom positivo, ainda que destacando o fechamento de uma rodovia), e outros estados.

O site G1 cumpriu um papel interessante nesse contexto, ao cobrir diversas manifestações especificas em suas páginas estaduais, como no Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Alagoas.

Um número razoável de matérias focalizou a interrupção das rodovias e algumas erraram ao deixar para o “pé” do texto a explicação sobre os motivos do protesto.

Marco Regulatório mantém espaço na mídia com tramitação no Congresso

O Marco Regulatório das OSCs manteve-se na pauta de vários meios de comunicação, muito por conta das movimentações no Legislativo a respeito do tema. Na maioria, os textos apresentam as propostas em debate, com variados graus de contextualização. O tom geral das matérias relaciona o marco principalmente com o combate à corrupção, deixando de lado o fomento das ONGs como parte da democracia.

O blogueiro de política do Uol, Fernando Rodrigues, publicou texto destacando o viés moralizante da proposta em tramitação no Senado. A matéria abre espaço para a Nota Pública divulgada pelas OSCs e entrevista a diretora da Abong Adriana Ramos.

A Carta Capital fez uma matéria sobre o Marco Regulatório em sua versão impressa, ouvindo Vera Masagão, da Abong, Diogo Sant’ana, da SGPR, e Anna Peliano, pesquisadora do tema com visão próxima das ONGs.

Vera também aparece nessa matéria do Valor Econômico, que trata das movimentações no governo para aprovação do Marco Regulatório. O texto fala de uma mudança de abordagem do Planalto para equalizar a questão das ONGs, agora buscando “um ajuste estrutural”. O jornal também fez matéria com a CGU, discutindo mecanismos de controle.

Paralelamente, o deputado federal Espiridião Amin divulgou artigo sobre o tema, defendendo o seu projeto de lei. O texto também destaca a Nota Pública e traz argumentos interessantes.

Uma audiência pública promovida pela Câmara discutiu o tema, com participação de Silvio Sant’Ana, da Esquel, que representou a Plataforma por um Novo Marco Regulatório para as Organizações da Sociedade Civil, e Diogo Sant’ana, da SGPR. Ambos defenderam, com variações, o ponto de vista construído no GT do marco Regulatório. A discussão foi divulgada pela Agência Câmara. As agências das duas Casas do Legislativo têm acompanhado a tramitação e outras discussões a respeito (exemplos aqui e aqui).

Ataques pesados

Entre os textos negativos, dois casos investigações envolvendo ONGs foram citados por jornais de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em tom de forte desconfiança. As duas matérias são de veículos do grupo RBS, um dos maiores grupos de mídia privados do país, com forte tradição conservadora.

Os ataques mais graves contra as ONGs vieram de veículos de um grupo ainda mais poderoso: as organizações Globo. No jornal carioca O Globo, o articulista Nelson Motta reproduz uma visão equivocada ao jogar ONGs, sindicatos e partidos no mesmo barco das “profissões fáceis”, deixando claro o ataque a toda opção de ação coletiva. A mesma linha segue esse comentário de Arnaldo Jabor, na rádio CBN – também da corporação Globo.

O argumento principal, de que as ONGs brasileiras vivem às custas de repasses de verbas governamentais, é comprovadamente falso: segundo estudo do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic), 24% das entidades sem fins lucrativos acessam recursos públicos – bem longe de ser a totalidade das 291 mil entidades existentes no país.

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