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Sem motivo e sem clima de tensão, como acompanhou a reportagem, a PM abriu fogo em direção aos manifestantes que protestavam contra o aumento do transporte; Cerca de 50 pessoas foram levadas para a delegacia.

Ato em BH | Fotos: Isis Medeiros
Ato em BH | Fotos: Isis Medeiros

A tarifa de ônibus de Belo Horizonte subiu de R$ 3,10 para 3,40, um aumento de 9,7%. A elevação ocorrida no último sábado (8) já é a segunda do ano. Considerando o valor abusivo, os movimentos Tarifa Zero BH e Passe Livre organizaram um ato no epicentro da capital mineira, a Praça Sete de Setembro.

O protesto estava previsto para começar às 17h da quarta-feira (12). Aquilo que iniciou como uma manifestação pacífica contra a política de mobilidade pública do município, terminou com repressão violenta de centenas e prisão arbitrária de cerca de 50 pessoas pela Polícia Militar (PM).

Às 18h, os manifestantes já tinham se aglomerado na praça, de onde partiram em direção à Prefeitura de Belo Horizonte. Eles avançaram pela avenida Afonso Pena, cantando marchas de protesto, e subiram a rua da Bahia.

Porém, tudo foi interrompido quando a PM barrou a rua e abriu fogo com balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio. Mesmo aqueles que estavam longe do protesto puderam ouvir quando as cantigas e o batuque se silenciaram e, em seu lugar, ecoaram gritos e tiros.

“Os PMs nos disseram: vocês têm três minutos para liberar a via. Não deu 30 segundos e eles começaram a mirar os manifestantes e a atirar”, conta o estudante Mateus Henrique, presente no ato.

Vídeos mostram que a marcha estava a pelo menos 20 metros da barreira policial e não houve nenhuma ação violenta por parte dos integrantes do ato.

Todo mundo no chão”

Em desespero, as pessoas entraram no primeiro lugar que viam, buscando proteção. Foi o caso de 80 jovens, que entraram no Hotel Sol, enquanto a polícia continuava os encurralando com bombas de gás, até que foi formada uma barreira policial em frente ao prédio. Sob o pedido de refúgio, a direção do Hotel abriu as portas aos manifestantes, mas a entrada da polícia não demorou.

Policiais provocavam: “Acabou a macheza de vocês agora, né?” e, em seguida, ele explica a situação: “Está todo mundo preso”. Iniciou-se uma “triagem”, segurando aqueles que vestiam camisetas de movimentos sociais ou portavam panfletos. Uma jornalista conta que foi liberada depois da comprovação da polícia de que ela não “participava do movimento”.

Duas horas depois, cerca de 50 pessoas foram levadas para a delegacia sob acusação de invasão de propriedade privada e depredação de patrimônio, apesar da entrada dos manifestantes ter sido previamente autorizada pela gerência do Hotel, conforme acompanhou a reportagem.

Logo em frente, cerca de 50 pessoas também tentaram se proteger entrando num prédio comercial. O clima ali também era de terror. Via-se muito sangue no chão. Havia gás lacrimogênio até mesmo no elevador, e policiais com armas apontadas para os manifestantes davam ordens contraditórias: “sobe”, “desce”, “não se mexe”, aumentando a confusão.

Pessoas choravam, em estado de choque, e ninguém sabia o que deveria ser feito, já que estavam também encurraladas. Depois de aproximadamente meia hora, a polícia começou a liberá-las em pequenos grupos.

Na rua, gás e bala de borracha

Os manifestantes que ficaram na rua foram asfixiados pelos gazes, causando vômitos, tonturas e desmaios. Mateus Espeschit, estudante do terceiro ano do ensino médio, recebeu um tiro de borracha na cabeça logo no início da ofensiva policial. “Eu estava com meus amigos na manifestação e do nada começaram as bombas, aí eu parei de escutar tudo”, diz. O ferimento precisou de dois pontos na lateral da cabeça.

O comerciante Watison Gonçalves abriu a sua loja para que as pessoas entrassem. Ele também ficou assustado com a atitude da PM. “Os policiais fecharam as ruas, não deixando nenhum carro passar, e começaram a soltar bomba no meio do povo. Do nada. A manifestação estava tranquila, pacífica. Tivemos que abrigar o pessoal aqui na loja, ligar os ventiladores. Todos com olhos muito vermelhos e tossindo. Caos total. A maior desordem que eu já vi na história da polícia que de BH”, afirmou.

Direito

“Manifestar é um direito fundamental”, afirma a nota do Tarifa Zero BH, um dos movimentos que convocaram a manifestação. “O que ocorreu nessa noite é uma tentativa da PBH [Prefeitura de Belo Horizonte, comandada por Márcio Lacerda, PSB] de garantir o aumento ilegal das tarifas através da violência. Nada justifica agredir e prender quem se manifesta pacificamente”, escreveram.

Na manhã desta quinta-feira (13), a articulação Quem Luta Educa soltou nota de apoio ao movimento, reforçando as vozes a favor de uma atitude do governo estadual. “Tal possibilidade de repressão já havia sido sinalizada este ano durante atos e greves de trabalhadores e também nas ocupações urbanas em Belo Horizonte. (…) É inadmissível que o governo estadual de Pimentel [PT], que se propunha a ouvir, e diz estar aberto ao diálogo, não escute as ruas”, diz a nota.

Nota do governo

O governo de Minas se posicionou, na noite de quarta-feira (12), prometendo uma “apuração rigorosa dos fatos” e o acompanhamento dos desdobramentos do conflito através da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania.

Reiterou seu respeito à manifestação, assim como ao direito de ir e vir e a não tolerância com a violência a funcionários públicos, neste caso a PM. A Secretaria está ouvindo, desde às 9h de quinta (13), os manifestantes que foram agredidos.

Os manifestantes levados para a delegacia foram soltos às 3h da madrugada de quinta (13). Um novo ato, com expectativa de reunir mais pessoas, segundo os movimentos organizadores, está marcado para a sexta-feira (14), às 17h, na Praça Sete. Também participarão os moradores de ocupações urbanas de BH, que vivem inúmeras ameaças de despejo.

Ação na Justiça

Na terça-feira (11), a Defensoria Pública ingressou com uma nova Ação Civil Pública, na 4ª Vara de Feitos da Fazenda Pública Municipal, pedindo por uma nova liminar que suspenda o aumento.

A proposta prevê que seja realizado outro estudo, dessa vez em formato de auditoria fiscal, contábil e financeira. No documento, o órgão pede também que a Ernst & Young, empresa que solicitou o aumento da tarifa, seja proibida de participar.

Essa foi a terceira vez que a Defensoria Pública entrou com pedido para tentar barrar o reajuste.

Fonte: Brasil de Fato, por Rafaella Dotta e Caio Santos

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