Crime estaria relacionado ao acirramento do conflito dos índios com madeireiros que invadem impunemente a Terra Indígena Araribóia
Mais uma liderança indígena é morta no Brasil. O cacique Jorginho Guajajara, da Terra Indígena Araribóia, na Amazônia maranhense, foi assassinado no último fim de semana. Segundo lideranças Guajajara ouvidas pela reportagem do Instituto Socioambiental (ISA), seu corpo foi encontrado na manhã do domingo (12) na entrada do município de Arame (MA). Jorge era cacique da aldeia Cocalinho I, do povo Guajajara.
De acordo com lideranças Guajajara, nenhuma providência foi tomada por órgãos públicos até agora. “Até agora nenhum órgão se manifestou”, afirma Vitorino Guajajara, da região de Lago Branco, na terra indígena.
Segundo Marçal Guajajara, o cacique foi morto por não-indígenas. O conflito na região é acirrado, com invasões constantes de madeireiros na Terra Indígena. Segundo Vitorino, existe uma espécie de toque de recolher na cidade e nenhum índio deve circular em Arame depois das 22 horas. O cacique Jorge estava no município depois desse horário. “Se for lá depois das 22h, acontece isso”, relata Vitorino. “Os madeireiros se juntam aos caçadores para agredir nossos parentes”, conta.
A região amazônica do Maranhão é alvo de intenso desmatamento e degradação florestal, inclusive dentro de terras indígenas. Segundo dados do Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) de 2017, 70% do bioma já foi desmatado no Estado (veja mapa abaixo). Apenas na terra indígena Araribóia, foram 24.698 hectares desmatados até 2017. No município de Arame, ainda de acordo com os dados do Prodes 2017, a situação não é diferente: dos últimos 25% de floresta restante, a maior parte está em terras indígenas. Além da terra indígena Araribóia, os Guajajara ainda possuem uma segunda área que incide sobre o território do município, a terra indígena Geralda/Toco Preto, de 19 mil hectares.
Guardiões da Floresta
Para combater a invasão de seus territórios e a degradação de suas florestas, os Guajajara têm se organizado em grupos de proteção territorial chamados de “guardiões da floresta”, que também fazem a vigilância contra madereiros e caçadores. O grupo ainda busca proteger, dos invasores, índios Awá Guajá isolados que vivem na região.
Xulwi Guajajara é líder do grupo de guardiões da Aldeia Zutiu, na TI Araribóia. Segundo ele, há um grupo de madeireiros foragidos da Justiça vivendo na TI, e que realizam assaltos na região. Isso tem acirrado o conflito e as ameaças contra os guardiões, que estão buscando apoio das autoridades locais e federais.
(Foto: Survival)