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Entusiastas da bicicleta como alternativa de transporte urbano conquistaram ciclofaixas, mas ainda têm de convencer motoristas, sindicatos, igrejas, condomínios e pequenos comércios

Cerca de 100 cicloativistas reuniram-se na noite desta segunda-feira (25) no Largo Santa Cecília, região central de São Paulo, para manifestar-se a favor das ciclofaixas instaladas pela gestão do prefeito Fernando Haddad (PT), além de cobrar maior integração e melhorias às estruturas existentes para o transporte por bicicleta. O grupo se mobilizou pelas redes sociais depois que comerciantes do bairro organizaram abaixo-assinado, acionaram a polícia e até buscaram o Ministério Público contra as ciclofaixas: o argumento deles é que as vias, que ocupam espaços anteriormente dedicados ao estacionamento de veículos, prejudicam os negócios.

“O bairro é pequeno e as coisas são muito próximas. Moro aqui há muitos anos e sempre usei a bicicleta para me locomover, inclusive para fazer compras por aqui. Não entendi a reação dos comerciantes, a não ser que a questão do estacionamento tenha pegado muito para eles”, pondera a produtora cultural Mariane Bonardi.

O ato de ontem percorreu vias com e sem ciclofaixa pela região central nos entornos das avenidas São João e Rio Branco, até a rua Barra Funda, com parada na estação Marechal Deodoro da Linha 3-Vermelha do Metrô, de volta pela rua das Palmeiras até o Largo Santa Cecília. Com escolta de carros da Companhia de Engenharia de Tráfego, os ciclistas enfrentaram poucos problemas com o trânsito: apesar de alguns ensaios de “buzinaço” nos faróis de vias mais movimentadas – pelo cumprimento e velocidade reduzida, o comboio de bicicletas extravasava o tempo do sinal vermelho – não houve incidentes com ônibus e outros veículos grandes, adversários mais perigosos dos ciclistas nas ruas.

“Tenho feito de bicicleta o trajeto entre a Faria Lima e a avenida Sumaré, e na rua Teodoro Sampaio é muito perigoso. Tem pontos em que os ônibus passam a 5 centímetros de você”, conta o estudante belga Michel Gaublomme, que chegou ao Brasil há duas semanas. “Acredito que o que falta em São Paulo são ciclovias com mais estrutura, isoladas em corredores, para você correr menos risco. O motorista brasileiro está menos acostumado, tem menos paciência. Na Europa, a diferença que vejo é que os ônibus e carros esperam atrás das bicicletas até que tenham espaço seguro para ultrapassar. Aqui, não”, lembra.

Outras demandas de ciclistas, como a redução do limite de velocidade nas vias com ciclofaixas e a sua expansão para que elas estejam todas interligadas (ciclistas pedem 1,2 mil quilômetros de vias, contra os 400 quilômetros planejados por Haddad até 2016), também foram defendidas durante o ato. Ao longo do percurso, problemas como falta de sinalização e a má qualidade do asfalto sob as ciclovias, que foram pintadas sobre as faixas à direita das ruas, normalmente utilizados por veículos pesados, também ficaram claros.

“Todos podemos mudar nossos hábitos, inclusive de consumo”, defende o técnico de informática Roberson Miguel. “Não queremos entrar em conflito com os comerciantes nem com os motoristas, apenas mostrar que não há necessidade de usar tanto assim o carro. Desde que vendi meu carro e o troquei pela bicicleta, tenho inclusive mais dinheiro para gastar”, completa. Ele defende que os ciclistas sigam aderindo aos protestos de rua e às lutas trabalhistas dos motoristas de ônibus, a exemplo do que ocorreu em torno do Movimento Passe Livre (MPL) em junho de 2013. “Aquele momento foi importante para que vários defensores do transporte público se unissem. No caso dos motoristas de ônibus, por exemplo, entendo por que eles veem a bicicleta como um obstáculo. As empresas cobram deles um tempo entre um ponto final e outro impraticável”, afirma.

A variedade de “adversários” que é necessário convencer, porém, é grande. Na região de Santa Cecília, por exemplo, os comerciantes estão aliados a pelo menos um sindicato (o dos trabalhadores em processamento de dados e tecnologia da informação), ao lado do Metrô Marechal, e à Igreja do Evangelho Quadrangular. O primeiro perdeu cerca de 10 vagas de estacionamento em frente a sede e o templo, outras seis.

“Na igreja, são duas mil assinaturas que eles recolhem contra as ciclofaixas por culto, de gente que não mora aqui. Pedimos, inclusive, que o Ministério Público checasse os endereços de quem está no abaixo-assinado por conta disso”, conta a ativista Anabella Andrade. No caso dela, o enfrentamento está até dentro de casa: no condomínio onde ela vive, na alameda Eduardo Prado, uma associação de moradores tenta convencer a síndica a instalar um bicicletário no prédio, sem sucesso. No espaço que seria destinado às bicicletas no estacionamento subterrâneo, o prédio construiu um “refeitório” para os funcionários, que comem e descansam entre os carros que entram e saem. “É uma situação insalubre e ilegal, que o condomínio mantém por ser antiquado”, lamenta Anabella.

Fonte: Rede Brasil Atual

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