O acesso a água potável como direito humano, gestão compartilhada de recursos hídricos, qualidade da água dos rios e redução da pobreza foram alguns dos temas do evento de lançamento do 8º Fórum Mundial da Água, que aconteceu em Brasília desde segunda-feira (27). A capital federal foi escolhida para sediar o evento mundial em março de 2018, uma iniciativa do Conselho Mundial da Água e dos governos federal e do Distrito Federal.
Em entrevista à Agência Brasil, o presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, informou que o evento de preparação reunirá cerca de 500 participantes de diversos países, que colocarão suas ideias a respeito dos temas envolvendo os recursos hídricos pelo mundo.
Segundo ele, o fórum é um espaço aberto para muitos atores, chefes de estado e governo, ministros, parlamentares, academia, setor privado e organizações não-governamentais.
“O fórum é organizado a cada três anos, tendo um país hospedeiro. Ele procura motivar a classe política para os desafios e usos múltiplos da água para produzir alimentos, gerar energia, navegação, questão do saneamento e acesso a água potável por todos. Esses temas precisam chegar até as autoridades tomadoras de decisão para que se possam encaminhar soluções para os problemas que enfrentamos”, disse Benedito.
Financiamento
Conforme Braga, as mudanças climáticas ou da variabilidade do clima se manifestam diretamente no setor hídrico, trazendo secas mais longas e enchentes mais densas, que devem ficar mais frequentes. “Temos de nos tornar mais resilientes. Temos de voltar os olhos para a adaptação. Como nos adaptamos? Construindo mais infraestrutura hídrica, barragens e reservatórios para situação de seca, de modo que a população possa depender dessa água armazenada”, acrescentou.
O presidente do conselho esclareceu que o setor de recursos hídricos estará presente na 22ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 22), no fim deste ano, no Marrocos, para influenciar os negociadores do clima a mudar um pouco o foco da mitigação e da questão das emissões de carbono. “Que uma parte do Fundo Verde de US$ 200 bilhões seja destinada para que as populações se tornem mais resilientes.”
Segundo ele, da mesma forma, custará muito caro para se alcançar a meta seis dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que é ter, até 2030, água limpa e saneamento para todos. “Mas temos de colocar um objetivo para motivar quem toma decisão a alocar recursos para o setor”, argumentou.
Benedito Braga disse ainda que existe um potencial de conflitos entre países pela água. “O Nilo, por exemplo, é um rio que corre por nove países africanos e já existe tensão entre Etiópia e Egito sobre a quantidade de água que será mantida a partir de um reservatório na Etiópia. Os rios Tigres e Eufrates são um problema para Turquia, Iraque e Síria”, destacou.
O presidente do Conselho Mundial da Água adiantou que, durante o fórum, serão apresentadas boas experiência de políticas de compartilhamento da água, como, por exemplo, o Rio Paraná e o Lago de Itaipu, compartilhado entre Brasil e Paraguai.
Disponibilidade hídrica
Benedito Braga disse que a chance de ocorrer uma crise hídrica na Região Sudeste, como em 2014, é pequena. Por outro lado, o Nordeste enfrenta o quinto ano seguido de seca. “O problema lá é muito sério. Para resolver isso, teremos de fazer um trabalho em duas direções: aumentar a disponibilidade da água e promover seu uso racional, que foi o que fizemos em São Paulo, com obras de transposição e incentivos econômicos para a população consumir menos.”
Para Braga, não existe uma solução única. Ele afirmou que, em alguns casos, é possível fazer o reúso e a dessalinização, mas não é o caso do Nordeste. “Precisa sim trazer água de mais longe. Tem de fazer obras e incentivar usos eficientes”, informou, lembrando que a Arábia Saudita faz a dessalinização para produzir alimento no deserto porque tem “óleo para queimar”.
Conforme Benedito Braga, a falsa sensação de que temos água em abundância no país dificulta a conscientização das pessoas e a adoção de políticas para evitar o desperdício. “No Sudeste, precisou ocorrer uma seca daquele porte para que as pessoas repensassem o uso da água”, concluiu.
Fonte: Agência Brasil