Desde quarta-feira (15), os camponeses se mobilizam: ocorreram ocupações de propriedades, de sedes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e bloqueios de rodovias em mais de oito estados
Nesta semana, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realiza sua Jornada Nacional de Lutas por Reforma Agrária. A data é simbólica: No dia 17 de abril de 1996, ocorreu o massacre de Eldorado dos Carajás, no qual 21 trabalhadores sem terra foram assassinados e mais de 60 foram feridos pela Polícia Militar durante uma marcha onde defendiam a desapropriação de terras.
“Foi uma decisão do Estado brasileiro massacrar aqueles trabalhadores rurais. Com a repercussão do fato, nós conseguimos pautar a reforma agrária na sociedade e denunciar a violência no campo. Mas a reforma agrária não foi feita quase 20 anos depois daquele massacre. Ainda tem fazendas improdutivas com jagunços com acampamentos próximos, militantes do MST sendo perseguidos, são temas que nesta semana nós queremos refletir e discutir com a sociedade”, afirma João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST.
Desde então, o mês de abril é marcado por mobilizações do MST. Além dos atos por reforma agrária, o movimento se juntou à luta das centrais sindicais contra a aprovação do PL 4330 (que pretende legalizar a terceirização para atividades-fim, a principal da empresa), e organizou ações nesta quarta-feira (15) em todo país. Segundo o movimento, a precarização do trabalho que a aprovação do projeto causará atinge fortemente os trabalhadores do campo.
“Hoje, entre os trabalhadores como um todo, quem é mais prejudicado e tem as piores condições de serviço são os trabalhadores rurais. Nós temos o exemplo da cana-de-açúcar, um trabalho com condições análogas à escravidão, trabalhadores que lidam com agrotóxicos e são envenenados diariamente. O campo tem quase três milhões de assalariados, mas apenas 1,2 milhão têm carteira assinada. Já são precarizados por natureza. Com essa proposta, há a chance de perdemos ainda mais”, diz João Paulo.
Desde quarta-feira, os camponeses se mobilizam. Ocorreram ocupações de terra, de sedes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e bloqueios de rodovias em mais de oito estados. Cerca de 1500 famílias ocuparam uma fazenda da área rural de Tapes, na Região Sul do Rio Grande do Sul e protestaram em Porto Alegre contra a lei das terceirizações.
Em São Paulo, a sede da Caixa Econômica Federal foi ocupada para cobrar agilidade e o destravamento na execução de projetos de construção, ampliação e reforma de casas nos assentamentos rurais. Em Serrana, interior do estado, 700 trabalhadores ocuparam a Usina Nova União e, pela 13ª vez, a fazenda Martinópolis. As famílias exigem a adjudicação imediata da fazenda que deve cerca de R$ 300 milhões em ICMS para o governo do estado. Além disso, 200 pessoas trancaram a rodovia que liga São Paulo ao Pontal do Paranapanema.
O Incra de Belém (PA) foi ocupado por 300 Sem Terra. Uma reunião com o representante nacional do instituto para discutir a destinação de terras da região para a Reforma Agrária foi agendada. Em Alagoas, as rodovias a BR 316, BR 101, em Flexeiras, e a BR 104, na cidade de União dos Palmares foram bloqueadas. Cerca de 400 trabalhadores e trabalhadoras ocuparam a sede da Águas do Agreste em Arapiraca (CAB). Os Sem Terra denunciam que o destino da água está à serviço da mineração, beneficiando a empresa Vale Verde.
Em Brasília, integrantes do movimento ocuparam o Incra para exigir o reconhecimento das áreas destinadas à reforma agrária no Distrito Federal.
Na Paraíba, 1500 famílias ocuparam a sede do Incra na manhã de quarta-feira (15). Os Sem Terra pedem o encaminhamento da pauta agrária no estado e o fim da PL 4330. Em Vitória (ES), os Sem Terra protestaram nas proximidades da Rodoviária de Vitória. A Polícia Militar reprimiu os manifestantes com bombas de efeito moral e balas de borracha. Às 14h, foi realizado um ato contra a Lei da Terceirização em frente à Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes).
Cerca de 600 integrantes do MST ocuparam a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Cuiabá (MT). Eles relembraram o massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 1996, quando 21 trabalhadores sem terra foram assassinados e mais de 60 ficaram feridos durante uma operação da Polícia Militar para reprimir uma marcha dos trabalhadores, no Pará.
Nesta sexta-feira (17), integrantes do MST fecham 13 rodovias estaduais e federais em todas as regiões do Paraná. Serão fechadas as rodovias federais e estaduais de Cascavel, Alto Paraíso, Guairaçá, Cruzeiro do Sul, Imbaú, Faxinal, Lerroville, Porecatu, Jacarezinho, Congoinhas, Carlópolis, Ribeirão do Pinhal e Laranjeiras do Sul.
Segundo Rodrigues, a jornada de luta tem como objetivo pressionar o governo a resolver a situação das 130 mil famílias camponesas acampadas debaixo da lona preta por todo país. “Desde o início do segundo mandato da presidenta Dilma, não houve nenhuma decisão oficial do governo de quantas famílias serão assentadas, qual será o volume de crédito agrícola. O MST não compactua com o que o governo tem feito até agora. Foi um desserviço para a esquerda brasileira e os setores progressistas a presidenta ter feito uma aliança com os setores mais conservadores na política, a Kátia Abreu na Agricultura e o Joaquim Levy conduzindo a política econômica. Os resultados das eleições de outubro foram fruto dos setores progressistas. Essa aliança não se justifica nem pela correlação de forças, nem pelo cenário econômico”, conclui.
Fonte: Brasil de Fato