Em nota de repúdio, a Rede Ecumênica da Juventude (Reju) e o Conselho Nacional da Juventude (Conjuve), juntamente com outros movimentos sociais, cobram do Governo do Estado da Bahia uma retratação pública e providências concretas na investigação da operação militar que resultou em cerca de 15 mortes de jovens negros no bairro Cabula, periferia de Salvador, no último dia 06 deste mês. Os movimentos pedem a investigação transparente e independente, com o acompanhamento do Conselho Nacional de Justiça e do Ministério Público.
Em entrevista a Adital, a facilitadora nacional da Reju Edoarda Scherer reforça que existe um extermínio da juventude. Hoje, segundo ela, o jovem que morre tem cor e espaço específico: são negros e negras das periferias. “Ações vêm empregando terror, medo e constrangimento em nome de um cartão postal. É mais fácil exterminar do que garantir condições de vida melhores. Onde estão as medidas socioeducativas? As políticas de inclusão?”, questiona Edoarda que alerta sobre uma “naturalização” desse discurso.
“Quando se criminaliza genericamente, isso parece legitimar ações violentas”, salienta a facilitadora. Falas como ‘bandido bom é bandido morto’ ou como a do próprio governador da Bahia: “é como um artilheiro em frente ao gol que tenta decidir, em alguns segundos, como é que ele vai botar a bola dentro do gol, pra fazer o gol; depois que a jogada termina, se foi um golaço, todos os torcedores da arquibancada irão bater palmas e a cena vai ser repetida várias vezes na televisão; se o gol for perdido, o artilheiro vai ser condenado, porque se tivesse chutado daquele jeito ou jogado daquele outro, a bola teria entrado”, são, em sua avaliação, um extermínio declarado.
Edoarda questiona que como é a polícia que está por trás de muitos extermínios, a grande mídia não divulga todas as informações. Dessa forma, não se pode aceitar tudo o que se vê na mídia, é preciso confrontar, questionar, promover o debate, pois as informações estão sendo distorcidas.
Em relação à chacina de Salvador, dois jovens advogados ligados a Reju estão assessorando diretamente as famílias das vítimas. Há um clima de tensão e ameaça e, portanto, detalhes são divulgados com cuidado para a proteção e segurança dos próprios ativistas.
Genocídio da juventude negra
De acordo com o Índice de Homicídios na Adolescência do Brasil (IHA/2012), publicado pelo governo federal em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), mais de 42 mil adolescentes (12 a 18 anos) poderão ser vítimas de homicídio nos municípios com mais de 100.000 habitantes entre 2013 e 2019. Em 2012, a mortalidade por homicídio da população adolescente foi a mais alta dos últimos oito anos. Jovens negros serão as principais vítimas, com quase três vezes mais risco de morte, se comparado ao jovem branco. Dados apontam que o índice de jovens brancos assassinados caiu 5,5%, enquanto o número de jovens negros mortos subiu 21,3% em 2012, em relação a 2007.
Os dados indicam que o Nordeste é a região com maior índice, registrando 5,97 homicídios de adolescentes por 1 mil habitantes dessa faixa etária. O Estado de Alagoas e as cidades de Itabuna, na Bahia, e Fortaleza (Ceará), foram o estado, o município e a capital com maior IHA em 2012.
Segundo Edoarda, 2015 deve ser um ano conturbado, já iniciando com essas pautas, além do extermínio de jovens negros, também as questões de gênero e o novo fluxo de ondas migratórias. “Muitas posturas vão se revelar e tudo está se relacionando, pois os temas fazem parte de uma sociedade que vive interdependente e que é plural. Não existe um ideal absoluto. O que nos espanta é a capacidade do não diálogo. Muito nos preocupa que o diferente, porque é diferente, não mereça existir.”, destaca a facilitadora da Reju.
Fonte: Adital