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Os equatorianos mostraram que querem uma política econômica que coloque a vida acima dos imperativos do mercado global. Por: Miriam Lang Via: opendemocracy.net

7 de fevereiro não foi apenas uma eleição presidencial no Equador. Cuenca, a terceira maior cidade do país sul-americano, votou contra uma série de mega-projetos de mineração nas cabeceiras de cinco rios que fornecem água para a área urbana.

Na área, adjacente a um parque nacional declarado Reserva da Biosfera pela UNESCO, há mais de 4 mil grandes e pequenos corpos de água no sensível ecossistema do Páramo, que atua como uma reserva nos Andes.

No entanto, empresas do Canadá, Austrália, Peru, Chile, entre outros, já obtiveram um total de 43 concessões para a extração de vários metais. Catorze organizações populares lançaram um referendo, aprovado pelo Tribunal Constitucional em setembro, através da Câmara Municipal de Cuenca. No domingo, mais de 80% do eleitorado votou a favor da proibição da mineração industrial nesta parte do altiplano andino. Um mandato democrático claro, de acordo com a Constituição de 2008, que estipula os direitos da natureza.

Como o resultado do referendo é juridicamente vinculativo pela Constituição, o próximo presidente terá de implementá-lo. Durante a campanha eleitoral, muitos dos 16 candidatos à presidência apoiaram a expansão da mineração como forma de tirar o país da crise econômica.

Apenas um deles se manifestou abertamente contra a mineração e a expansão da fronteira petrolífera na região amazônica: Yaku Pérez Guartambel, o candidato do movimento indígena e sua organização política Pachakutik.

A eleição presidencial não será decidida até o segundo turno, em 11 de abril. O herdeiro político do ex-presidente Rafael Correa, Andrés Arauz, obteve 32,2% dos votos no primeiro turno e garantiu presença na disputa em abril.

Pela primeira vez na história do Equador, um candidato indígena de organizações de base tem chance de vencer as eleições

Mas quem será seu oponente ainda não foi decidido. Com 98,1% dos votos contabilizados, Pérez Guartambel está à frente do banqueiro neoliberal Guillermo Lasso por 0,28%. Pérez atualmente tem 19,87%, contra 19,59% de Lasso, um empate técnico.

Pela primeira vez na história do Equador, um candidato indígena de organizações de base tem chance de vencer as eleições. Este já é um enorme sucesso simbólico para o movimento indígena equatoriano, que captou manchetes em todo o mundo em outubro de 2019 com sua mobilização contra a liberalização dos preços da gasolina e do diesel.

Se Pérez realmente chegar ao segundo turno, o eleitorado enfrentará duas interpretações diferentes da esquerda na América Latina. Por um lado está a esquerda populista e autoritária consolidada por Rafael Correa, que esteve no poder de 2007 a 2017 e apoiou a expansão do extrativismo para financiar uma modernização da infraestrutura e dos programas sociais. Ele prometeu mais igualdade, mas à custa da destruição da natureza e da restrição dos direitos democráticos. E por outro, uma esquerda intercultural e ecológica que atrai principalmente as gerações mais jovens, traz à tona questões como a emergência climática e a preservação das florestas tropicais e remete ao grande movimento indígena dos anos 90 e sua forma comunitária de fazer política.

Neste sentido, o surgimento de Pérez, ex-prefeito de Azuay, traz um sopro renovação em um contexto de polarização entre a velha esquerda progressista (representada por Arauz) e a direita mais reacionária (representada por Lasso), em uma região em extrema necessidade de inovação política.

Em Cuenca, a população em geral, e não apenas as comunidades rurais diretamente afetadas, tem se manifestado contra a mineração

O Equador é um dos países com maior biodiversidade do mundo. Em tempos de extinção em massa de espécies, políticas econômicas que apostam no aumento da mineração e da produção de petróleo poderiam ter consequências incalculáveis para além do pequeno país. A pandemia levou a uma expansão e aceleração das atividades de destruição da natureza que colocaram toda a América Latina em uma zona cinzenta legal, uma vez que os controles ambientais foram em grande parte suspensos.

Ao mesmo tempo, deixou muito claro que o avanço da superexploração capitalista em ecossistemas frágeis acarreta grandes perigos para a humanidade. Em Cuenca, a população em geral, e não apenas as comunidades rurais diretamente afetadas, tem se manifestado contra a mineração.

Isto abre o caminho para o debate sobre a necessidade de uma mudança na política econômica que coloque questões que sustentam a vida, como a soberania alimentar e a água limpa, acima dos imperativos do mercado global.

Produção de óleo nas aforas do Parque Nacional Yasuní, na floresta tropical perto de Coca, Equador | Georg Ismar/DPA/PA Images

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