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Mesmo com poucos recursos, emissora já foi ouvida por mais de meio milhão de internautas em cerca de 60 países. Tudo que vai ao ar é feito por e para indígenas

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Denilson comanda a mesa de som para a apresentação do músico Mokuká Mebengokré, que cantou forró em língua kayapó, no Parque Lage, Rio de Janeiro/ FACEBOOK RÁDIO YANDÊ

Educação, cultura, direitos humanos, política, meio ambiente, trabalho… Tudo que vai ao ar na Rádio Yandê é feito por e para indígenas. Fundada em 2013 por Anápuáka Muniz Tupinambá Hã-hã-hãe, Renata Tupinambá e Denilson Baniwa, a Yandê é a primeira rádioweb indígena feita no Brasil. Além de música, a grade traz programas informativos, educativos, entrevistas, poesia e debates que apresentam ao público um pouco sobre a realidade das primeiras nações do Brasil e do mundo.

Segundo o comunicador Anápuáka Tupinambá, a inspiração para a criação do canal foi o Programa de Índio, feito por Ailton Krenak e veiculado pela ­Rádio USP e outras emissoras educativas a partir da década de 1980. “A Yandê vem pela necessidade, pela falta de espaço na mídia, que coloca os indígenas em uma condição estereotipada. Nos últimos três anos, a gente avaliou que não tinha uma mídia que fosse de indígena para os indígenas, com a visão do indígena sobre nós mesmos. Havia essa necessidade de uma mídia que fosse, além da nossa cara, o nosso pensamento”, diz.

Atualmente, a Yandê tem cerca de 100 colaboradores indígenas espalhados por todos os estados do Brasil e um no Chile. “Eles mandam o conteúdo do que acontece nas suas regiões, passam pauta, auxiliam, trazem as notícias. A gente apura tudo e constrói os nossos conteúdos”, afirma Anápuáka. Além disso, a rádio conta com três correspondentes: Daiara Tukano, em Brasília, Vavá Terena, em Mato Grosso do Sul, e Djuena Tikuna, no Amazonas. Tudo isso feito desde o início por meio de investimento dos próprios fundadores.

Mesmo com poucos recursos, a rádio já foi ouvida por mais de meio milhão de internautas em cerca de 60 países. “A gente fala dos povos indígenas do mundo inteiro, seja do Canadá, dos Estados Unidos, América Latina, Austrália, das terras altas (aldeias andinas), dos Celtas, os indígenas japoneses… A questão da origem é indiferente”, aponta Anápuáka.

“Nossa missão é levar comunicação para os povos indígenas, levar as melhores notícias, o melhor da nossa cultura, o melhor do que a gente pode mostrar. Porque falar mal dos indígenas as outras mídias já fazem. Então, a gente quer mostrar o outro lado da nossa cultura, um lado que a maior parte das pessoas não conhece. Um dos grandes objetivos é levar a essas populações indígenas o direito de comunicar, essa possibilidade de criar suas próprias plataformas, difundir cultura indígena pelo olhar de quem realmente é indígena. Porque tudo o que a gente vê ou lê é uma versão do outro sobre nós”, analisa o comunicador.

“Mas a gente não dá voz ao indígena. Ele tem essa voz, essa força e luta. A gente só amplifica. É uma forma de estímulo para que eles criem as suas ferramentas de comunicação para falar sobre suas questões e mostrar a realidade dos povos indígenas no Brasil, sem preconceito e sem estereótipos.”

Diversidade

Engana-se quem pensa que a programação musical da Rádio Yandê leva ao ar apenas canções tradicionais. A grade feita semanalmente apresenta ao ouvinte rap, sofrência, pagode, heavy metal, metal, reggae, entre outros estilos. “Eles se apropriam dos gêneros para se apresentar. Não é simplesmente uma música ou um ritmo de branco, é uma música que está sendo apropriada por todos e não seria diferente com o indígena, que faz parte dessa sociedade”, afirma.

Mas para ir ao ar não basta apenas que as músicas sejam feitas por índios. Segundo Anápuáka, as canções têm de trazer mensagens que de alguma forma tratem sobre a realidade deles. “Não é porque é uma rádio indígena que ela está voltada para receber qualquer conteúdo que venha do indígena. Se não for de luta, que tenha a ver com a cultura, que venha alimentar, fomentar e fortalecer nossa própria cultura, não tem sentido tocar com a gente”, observa.

Entre os músicos que volta e meia aparecem na programação, estão o grupo de rap Brô MCs, da aldeia Jaguapirú Bororó; a cantora, atriz, modelo e liderança indígena Zahy Guajajara, da aldeia Colônia; Wakay, da tribo Kariri-Xocó; Edivan Fulni-ô, do grupo Coisa de Índio; e o rapper Frank Waln, da reserva Rosebud, em Dakota do Sul, nos Estados Unidos, entre outros artistas. “A população indígena está se apropriando desses espaços de produção. Houve bastante estímulo no extinto Ministério da Cultura por meio de editais, chamados, e existem organizações que produzem esses estímulos. Há também indígenas que, de forma autônoma, simplesmente vendem uma vaca, um cabrito ou plantam, pegam o dinheiro, produzem um CD e passam pra gente”, conta o comunicador.

A grade fixa da Rádio Yandê traz os programas Roda de Prosa, que faz debates semanais sobre questões indígenas; o Comunica Parente, que reproduz áudios enviados para a redação com denúncias, poesias, histórias, depoimentos e apresentações musicais; o Programa de Índio, apresentado por Ailton Krenak e mais lideranças, entre outros. “Quando a gente mostra para os povos indígenas que eles podem comunicar, se apresentar e mostrar o melhor da sua cultura e diversidade, coloca-se aí uma força a mais de luta, um empoderamento”, conclui Anápuáka Muniz Tupinambá Hã-hã-hãe. Ele espera que o canal possa, em breve, ter acesso a mais recursos financeiros para manter e ampliar a programação.

Como ouvir: http://radioyande.com/

Fonte: Rede Brasil Atual 

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