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Apesar de programas tentarem reinserir a população trans na escola e no mercado de trabalho, discurso conservador ainda barra direitos essenciais.

A transsexual Viviany Belobony causou polêmica na parada LGBTTT de São Paulo, no último dia 7 de junho, ao desfilar crucificada como Jesus para denunciar as mortes causadas pela transfobia no Brasil. De acordo com a ONG Transgender, o país é líder mundial nesse tipo de crime de ódio. Entre janeiro de 2008 e abril de 2013, 486 pessoas morreram por conta dessa modalidade violência. Ativistas apontam que a retirada da questão de gênero de planos de educação ajudam a manter essa situação.

Para além da violência física, o preconceito contra a população transsexual ainda é presente no cotidiano e afeta diversas áreas da sociedade. Segundo ativistas e organizações, equipamentos públicos como escolas e postos de saúde não possuem o tratamento adequado.

Encenação de Viviany na Parada do Orgulho LGBT | Foto: Reprodução
Encenação de Viviany na Parada do Orgulho LGBT | Foto: Reprodução

A militante trans Daniela Andrade aponta que essa falta de atenção aumenta ainda mais a desinformação, que muitas vezes é também reforçada pela cobertura da mídia tradicional em programas policialescos. “Nos mostram como bandidas e de uma forma extremamente desumanizada”.

Gênero nas escolas

Um dos motivos apontados para a inoperância do poder público é a mistura de religião com o Estado. A chamada bancada evangélica impede diversos avanços no Congresso Nacional como o caso do projeto Escola sem Homofobia em 2011.

Em várias cidades brasileiras também estão sendo discutidos os Planos Municipais de Educação e a questão da igualdade de gênero é algo presente em vários deles. Em São Paulo, os vereadores excluíram os pontos que incluíam a promoção da diversidade de gênero no ambiente escolar, sob a justificativa de que não gostariam de ver a “ideologia de gênero” nas escolas.

Daniela rebate o discurso de que o debate de gênero nas escolas iria impor às crianças que elas não tivessem sexo e aponta que os discursos conservadores contribuem para o aumento do preconceito

“O debate é completamente ignorado pelas escolas. Agora, quando você exclui a palavra ‘gênero’ do plano porque vai destruir a ‘família tradicional’ você coloca ali a religião. A questão é que só você retirar a questão de igualdade de gênero das escolas não vai fazer com que as pessoas trans deixem de existir”, critica.

A transsexual Bia Manthay foi uma das que sentiu na pele o despreparo do sistema escolar brasileiro. Desde que se identificou como trans, aos 13 anos, sofreu com o preconceito dos estudantes e com a falta de apoio que recebeu na escola.

“Na época da escola eu já deixava o cabelo crescer, e isso incomodava muita gente. Eu tinha que frequentar o banheiro masculino e apanhava dos outros meninos. Não tinha nenhum tipo de apoio e acabei abandonando na quarta-série porque eu não aguentava mais”, disse.

Programa transcidadania

Para conseguir, ao menos em parte, responder a falta de políticas públicas para essa população, a prefeitura de São Paulo criou, em janeiro deste ano, o programa Transcidadania. O município paga uma bolsa de R$ 827,40, com base no Programa Operação Trabalho (POT), para pessoas que estão desempregadas e tem renda familiar de até meio salário mínimo por pessoa.

Coordenadora do programa, Symmy Larrat aponta que o POT teve que sofrer algumas alterações para se inserir nas necessidades das transsexuais. Ao invés do cumprimento de estágio, a prefeitura exige que as 30 horas semanais sejam compensadas em estudo.

“Grande parte da população trans tem escolaridade muito baixa. Então resolvemos dar a bolsa para que elas pudessem elevar a sua escolaridade. As 100 primeiras pessoas foram escolhidas por uma triagem que chegou em todos os equipamentos públicos que lidam com essa população e estão dentro dos critérios do POT”, explica.

Symmy chama atenção para o ponto de que as pretenções das estudantes mudaram rapidamente com o passar do tempo. “Quando você resgata esse vínculo com a escola e o convívio escolar você começa a criar anseios. No início as áreas de interesse eram aquelas que elas achavam que seriam aceitas pela sociedade, cabeleireira e cozinha, mas agora já temos inúmeros pedidos de oficinas diversas como fotografia e texto”.

Bia conseguiu entrar no programa e agora busca novas oportunidades na vida. Com o documento feminino desde dezembro do ano passado, ela quer deixar a época de fazer programas para trás e conseguir uma oportunidade na área de saúde. “Faço um trabalho voluntário que é entregar camisinha e gel em casas de garotas de programa e quero seguir nessa área”, acredita.

Fonte: Brasil de Fato, por Bruno Pavan

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