‘É preciso vivenciar essa experiência de estar junto para poder pensar uma alternativa, acreditando que um outro mundo realmente ainda é possível’, disse Olumide Betinho, representante dos povos de matriz africana
Por Luís Eduardo Gomes, do Sul21
A palavra de ordem foi bem clara: unidade. Ecoou em praticamente todas as falas dos representantes de movimentos sociais e estava impressa na faixa que vinha à frente da caminhada que marcou, simultaneamente, a XII Marcha Estadual Pela Vida e Pela Liberdade Religiosa do RS e a abertura do 2º Fórum Social das Resistências, que está sendo realizado em Porto Alegre entre os dias 21 e 25 de janeiro.
“Hoje, a XII Marcha Estadual Pela Vida e Pela Liberdade Religiosa do RS está unificada com o Fórum Social das Resistências nessa ideia de que os povos precisam se juntar. O povo de terreiro, o povo indígena, o povo ribeirinho, o povo de santo, enfim, todos os povos, principalmente aqueles que são marginalizados, são excluídos e estão vivenciando um momento difícil no Brasil. Mais do que nunca, é preciso vivenciar essa experiência de estar junto para poder pensar uma alternativa, acreditando que um outro mundo realmente ainda é possível”, disse Olumide Betinho, representante dos povos de matriz africana, fazendo referência ao slogan histórico do Fórum Social Mundial.
A combinação das duas marchas em uma só reuniu centenas de pessoas no início da noite desta terça-feira (21) em Porto Alegre. Inicialmente, com uma concentração no Largo Glênio Peres, representantes de movimentos sociais envolvidos nos dois eventos se alternaram em falas, sempre destacando a necessidade dessa unidade. Por volta das 18h30, os participantes iniciaram uma caminhada pela Borges de Medeiros até o Largo Zumbi dos Palmares, onde a marcha foi encerrada.
Para Nídia de Oxum, da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro), a importância dessa marcha é simbolizar as resistências política, religiosa, dos povos de matriz-africana e do dia a dia. “A opressão que nós estamos vivendo é demais. Não dá mais para aguentar. Então, acho que a gente tem que sair para a rua, tem que gritar, tem que pedir, nós temos que ser mais unidas para que alguma coisa mude, porque, do jeito que está, não é possível. A intolerância está total”, disse.
Organizador do Fórum Social das Resistências, Mauri Cruz destacou que, desde a primeira edição do evento, em 2017, a ideia foi construir um grande processo de unidade entre os movimentos sociais. “Essa metodologia não é só dos dias do fórum, é o processo de preparação do fórum, o envolvimento dos movimentos sociais, das redes sociais, o protagonismo das mulheres, da juventude negra, das mulheres negras, da comunidade LGBT, junto com os movimentos tradicionais. Eu acho que essa marcha, debaixo de chuva, está demonstrando que essa unidade revigora o processo de lutas, abre 2020, que certamente será um ano de muita resistência, muita luta e, esperamos, de muitas vitórias”, diz.
Para o ex-governador e ex-prefeito Olívio Dutra, a marcha desta terça-feira é uma demonstração da vontade permanente dos setores organizados do povo de se organizarem e ampliarem suas forças. “Nós temos que demonstrar que tem um caminho sendo seguido para ser ampliado e fortalecido. O objetivo estratégico dessa luta é a reconquista da democracia e o permanente aperfeiçoamento das instituições, inclusive dos poderes. O povo tem que ser sujeito e não objeto desse processo. O Fórum das Resistências é uma afirmação do protagonismo do povo na construção da política e de políticas em todas as áreas”, disse.
Unidade política em Porto Alegre
Outro tema recorrente nas falas foi a necessidade de os partidos de esquerda estarem unidos na eleição municipal em Porto Alegre neste ano. Abigail Pereira, vice-presidente estadual do PCdoB, destacou que ouve a cobrança pela unidade nas ruas. “A cada lugar que a gente vai, o povo faz uma pergunta que é recorrente: ‘Dessa vez vocês vão unidos, né?’ É recorrente isso. Nós temos uma responsabilidade e seremos cobrados se não construirmos essa unidade”, disse.
Para ela, o momento de retirada de direitos, de avanço do fascismo e de negação do direito à cidade exige uma aliança que seja mais ampla do que a vista em eleições anteriores. “Não tem alternativa senão a construção da unidade. As nossas diferenças seguirão e terão espaço para sobreviver, mas, neste momento, o que nos chama é a unidade, é a amplitude. O verbo que nós precisamos conjugar é ampliar e não demarcar. Não é demarcar cada um na sua ideologia. Nós precisamos estar unidos, construir um programa coletivo, de forma coletiva, para enfrentarmos essa avalanche”, disse.
Para o deputado federal Elvino José Bohn Gass o Fórum Social das Resistências pode ser um elemento importante na construção dessa unidade. “Nós termos entidades que se reúnem, que trabalham a unidade popular, que reafirmam a necessidade de serem ouvidos e terem políticas e programas públicos, é fundamental. Essa rede de resistência nas comunidades é fundamental. Essa terra aqui fez um Fórum Social Mundial. Essa capital gaúcha já teve orçamento participativo, conselhos, participação social, respeito às diferenças, e isso nós precisamos apresentar para a sociedade”, disse.
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(Fotos: Luiza Castro/Sul21)