Na última quarta-feira (9 de abril), aconteceu, no Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo – SEESP, em São Paulo, seminário de mobilização e articulação das organizações e movimentos sociais brasileiros em torno do processo do Fórum Social Mundial (FSM). O evento reuniu cerca de 40 representantes de organizações e movimentos sociais brasileiros de caráter nacional e/ou que estiveram envolvidos/as em comitês estaduais do FSM e que estão comprometidos com a Carta de Princípios do Fórum. Organizações e movimentos de seis Estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Bahia, Pará e Amazonas) estiveram presentes na ocasião.
Resultado de uma decisão tomada em janeiro deste ano durante o Fórum Social Temático de Porto Alegre, em uma roda de diálogo promovida pelos membros brasileiros do Conselho Internacional (CI) do FSM e que reuniu organizações e movimentos sociais de caráter nacional de diversos Estados do país, o seminário teve como objetivo a mobilização e rearticulação da sociedade civil brasileira em torno do processo do FSM. Mais do que nunca, o FSM e o próprio CI estão desafiados a ressignificar-se numa conjuntura mundial que evoluiu muito desde o surgimento do FSM, em 2001, em Porto Alegre. Esse encontro foi uma oportunidade para participar de um processo avaliativo em curso assim como para refletir e incidir sobre as estratégias de articulação e mobilização dos movimentos sociais no país no processo do Fórum.
Juntamente com Ciranda Brasil, CUT (Central Única dos Trabalhadores) – Brasil, União Brasileira de Mulheres – UBM e União Nacional dos Estudantes – UNE, a Abong compôs a comissão organizadora do evento. Participaram ainda entidades dos movimentos negro, feminista, sindical, de juventude, da democratização da comunicação, entre outras.
O período da manhã foi dedicado à apresentação das entidades presentes. À tarde foi realizada uma ampla avaliação do processo do FSM desde sua primeira edição, em 2001, e um debate em torno dos caminhos futuros do evento global. A reformulação das posições do FSM, visto como importante compromisso para com a causa de oposição ao modelo neoliberal; a proposição de formatos diferenciados do evento; a proposta de regionalização da modalidade e metodologia das discussões do e sobre o FSM; a possibilidade de inserir novos movimentos (Indignados, na Espanha e movimento Occupy, por exemplo) no processo de discussão do FSM; e críticas à transparência em relação ao CI do FSM foram alguns dos pontos do debate.
Na ocasião, Damien Hazard, diretor executivo da Abong, apresentou os resultados de duas pesquisas em curso, uma de auto-avaliação do CI, e um estudo realizado junto a uma universidade finlandesa aplicada ao CI para dimensionar fragilidades e potencialidades do FSM. Entre as críticas mencionadas pelos membros estão: distância entre as visões do FSM, as aspirações dos/das ativistas e as práticas do CI; dificuldade de inclusão de novos movimentos; necessidade de mais práticas democráticas dentro do CI e de maior diálogo com os movimentos de base; entre outras. Além disso, há críticas sobre a falta de posicionamento do FSM e do CI enquanto organizações, o que fere a Carta de Princípios do Fórum. “Apesar das críticas, há 40 eventos de desdobramentos do Fórum Social Mundial, como fóruns sociais temáticos, regionais e locais, marcados para acontecer em 2014, além do evento global, em 2015, novamente em Túnis”, lembrou Hazard.
Antônio Martins, do site Outras Palavras, avalia que o Fórum sofreu uma perda de repercussão e função que está relacionada a problemas internos do CI e também à modificação da situação da esquerda histórica que passou a fazer alianças com governos, além da pouca inclusão de outros movimentos no processo do Conselho. “A rearticulação do FSM se dará por uma reformulação com novos elementos de simbologia e com a criação e requalificação de novos debates para que se dê mais importância para as reuniões do Fórum. Por isso é fundamental construir uma articulação nova para a agenda do FSM de 2016 que tem muita importância para dar esse novo fôlego para o evento”, avaliou.
Hazard lembrou que o FSM ganhou um novo fôlego no pós crise de 2008 com as edições que aconteceram no norte da África, principalmente no último, que ocorreu em Túnis, na Tunísia, em 2013. “Essa edição trouxe muito da mobilização da juventude e das mulheres da região. Inúmeras novas questões foram colocadas em pauta como a questão do Saara Ocidental e da democracia na região. Além disso, a articulação dos movimentos sociais dali teve muito impacto na Primavera Árabe que culminou em revoluções como a revolução democrática na Tunísia”, salientou.
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Crédito da foto da home: Fora do Eixo