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A quinta-feira foi tomada no Fórum por discussões relacionadas à mídia e a repercussão da atual configuração deste setor no Brasil. Concentração de propriedade nos meios de rádio e televisão, manipulação da informação e vigilância total sobre o que as pessoas fazem na internet foram alguns dos problemas debatidos ao longo do dia. Uma das conclusões fundamentais dos espaços é de que a comunicação é cada vez mais um instrumento de luta político que deve ser apropriado por aqueles que desejam construir um outro mundo.

Para começar o dia, a Associação Gaúcha de Rádio Comunitária (Abraço-RS) elaborou uma atividade acerca da história e do futuro das rádios comunitárias. Os participantes debateram o a criminalização do setor e avaliam que se encontram em um dos momentos mais difíceis da luta pela radiodifusão comunitária. Além de terem de enfrentar a força dos empresários de rádio e TV, que possuem grandes lobbys políticos para perpetuar seus interesses, agora contam com um novo inimigo na disputa por espaço no espectro eletromagnético: as empresas de telecomunicação. Muito mais fortes e com operações internacionais, as teles vêm abocanhando grande parte do espectro e busca sempre essa ampliação para ter ainda mais lucro em seus negócios. Por considerarem o espectro um bem comum, os participantes do debate avaliam ser fundamental a discussão acerca da propriedade do mesmo de forma que toda sociedade participe. Além disso, foi colocada para discussão a proposta de uma Conferência Nacional das Rádios Comunitárias para aglutinar os comunicadores e elaborar propostas políticas que sejam implementadas pelo Ministério das Comunicações.

Juventude e direitos humanos na mídia
Na parte da tarde uma mesa de convergência trouxe o debate da comunicação relacionado ao tema de juventude e direitos humanos. Com uma diversidade de participantes entre artistas, militantes de movimento negro e de movimentos de bairro, a mesa teve como grande destaque a discussão sobre liberdade de expressão e preconceito. Logo de cara foi relatada uma situação de racismo contra um militante negro participante do Fórum que, não fosse a mobilização e intervenção de participantes do Fórum Social, provavelmente a polícia o teria levado preso por questionar ser revistado pelos guardas. Uma clara demonstração do racismo institucional existente no Brasil.

Quando o debate foi para o ponto da liberdade de expressão, o depoimento do artista egípcio Shady El Noshokaty expôs o problema atual de seu país e a ditadura que se instalou por lá após as grandes manifestações de2011. Segundo Shady, o poder atual é pior e mais duro do que o poder islâmico que governava anteriormente. Uma grande decepção para o povo que conseguiu derrubar uma ditadura de 25 anos indo às ruas em 2011 e agora não podem sequer realizar atividades públicas nas ruas sem autorização do regime sob risco de serem presos. O medo de falar sobre determinados assuntos e frequentar locais ronda o país: “Estou falando aqui e não sei o que pode acontecer comigo quando voltar.” Relatou o artista, que desenvolve um projeto de intervenção nas ruas para romper com a institucionalidade.
Apesar de vivermos num país sob regime democrático, muito jovens também não sabem o que pode acontecer com suas vidas, especialmente nas favelas e nas periferias. Essa realidade foi tratada pelo rapper Eduardo Taddeo de São Paulo. Eduardo expôs a naturalização das mortes de jovens negros cotidianas que acontecem nas periferias do país e não ganham nenhum destaque na mídia. Para ele a grande lição foi dada pelos estudantes que ocuparam as escolas de São Paulo e conseguiram assim mudar os rumos desta política.

A mesa ainda abordou a necessidade de se ter um veículo de esquerda que consiga ter repercussão nacional e se contrapor às pautas impostas pela mídia empresarial. A descendente de palestinos Aine Bakar apontou a mídia como ferramenta de luta e trouxe o debate da questão palestina. A campanha pela libertação do brasileiro palestino Islam Hamed foi também divulgada. Por fim, Mário Marques, do bairro Mario Quintana, trouxe a experiência de transformação do olhar dos próprios moradores sobre o bairro. Com o menor IDH da cidade de Porto Alegre, eles conseguiram através de intervenções artísticas trazer outro olhar para as questões do bairro.

Mídia, ideologia, educação e poder fecham ciclo de discussões do dia
Com o auditório Dante Barone na Assembleia Legislativa praticamente lotado, o debate sobre mídia educação e poder trouxe elementos de direitos humanos, manipulação da mídia e vigilância na internet. O secretário de Direitos Humanos Rogério Sottili abriu falando da importância da mídia pautar a questão de direitos humanos e criticando os programas que incentivam a violência. Para ele, a mídia nunca esteve tão capturada pelos interesses econômicos e ideológicos e busca atualmente uma criminalização das pautas de esquerda e de direitos humanos.

Rosane Bertotti, do Fórum Nacional pela democratização da Comunicação, destacou a construção do império de mídia das organizações Globo que impõe seu discurso em todos os aspectos da vida e da dignidade humana. Rosane apontou ainda as manipulações feitas pelo jornalismo, exemplificando com a cobertura dos atos de dezembro pró e contra impeachment, onde mesmo sendo maior o ato contra o impeachment teve menos destaque. Bertotti apontou ainda a necessidade fortalecer as estruturas de comunicação que já temos, como as rádios comunitárias, e também a comunicação pública para a disputa política.

Em seguida, Rita Freire, da Ciranda, destacou a dificuldade de transformar as agendas de luta em conquistas. Ela afirmou ainda que todas as mesas tem tocado na questão da mídia, mas Brasil não enfrentou a concentração como outros países da América Latina. Na sequência de Rita, Paulo Montorin da secretaria Nacional de Juventude falou sobre a importância das novas linguagens da juventude e de organização para se pensar uma nova política de comunicação.

Questão palestina e movimento negro também denunciam a atuação da mídia

Não é só o poder bélico que o estado de Israel utiliza para oprimir os palestinos, a mídia internacional também utiliza seu aparato para passar a ideia de confronto e não do massacre que acontece em Gaza matando milhares de palestinos. Essa foi a denúncia de Soraya Mislet, que lembrou também dos dois militantes palestinos que foram impedidos de vir ao Fórum por conta de proibições de Israel. Soraya falou a tentativa da mídia internacional de tratar a questão como se fosse um conflito, colocando a resistência palestina como ameaça. Para se ter ideia quando foram mortos recentemente 2200 palestinos contra 57 soldados israelenses, não se falou em massacre mas em conflito. Essa postura, segundo ela, é uma “falsa imparcialidade” que encobre a atuação sionista de genocídio do povo palestino. Neste ponto Soraya também criticou a recente visita do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) a Israel sob pretexto de dialogar com a esquerda sionista. Segundo ela, Israel tenta passar a imagem de de conceder liberdade para a população LGBT exatamente para encobrir seus crimes. A militante palestina lembrou ainda que foi a esquerda sionista que fez a divisão do território palestino em 1967, tirando a maior parte das terras deste povo: “Não tem como dialogar com esse tipo de esquerda.”. Ela lembrou ainda que apesar de muitos negarem, existe sim movimento LGBT palestino.

O movimento negro colombiano, representado por Carlos Gutierrez, trouxe a invisibilidade do afro-colombianos na mídia para o debate. Carlos expôs alguns exemplos berrantes da discriminação racial na mídia colombiana, dentre eles um comediante utilizando o artifício chamado black face (pintar o rosto de preto) para ridicularizar os negros. Além disso, propagandas e revistas onde brancos se expõem como pessoas de sucesso e negros aparecem ao fundo como serviçais demonstram o local dos negros na mídia do país. Carlos falou ainda que mais de 80% dos negros colombianos vivem em situação de pobreza, sendo 24% em situação de miséria, mas que finalmente conseguem se articular para reivindicar direitos.

Vigilância na internet: sorria você está sendo vigiado
Fechando o debate Stephane Couture, do Fórum Mundial de Mídia Livre, falou sobre vigilância e liberdade na internet. Stephane aponta que, sob a justificativa da luta contra o terrorismo, diversas leis para manter a internet vigiada têm sido elaboradas. Um dos principais problemas é o fato de a grande maioria dos servidores ter hospedagem nos Estados Unidos, passando assim todas as informações por este país. O canadense apontou que até mesmo em seu país busca-se ampliar a vigilância mesmo que a pessoa não seja investigada. A grande investida tem sido em leis que permitem à polícia fazer investigações de qualquer pessoa sem autorização judicial. No Brasil, o projeto de lei 215 prevê essa questão dando poderes a todos os delegados de polícia para solicitarem informações de internet de qualquer cidadão sem autorização judicial. Diante desse quadro, Stephane aponta a necessidade de se aprender novas tecnologias. O palestrante também convidou todos a participarem do Fórum Mundial de Mídia Livre que acontecerá em Montreal em agosto junto com o Fórum Social Mundial.

Diante de tantas discussões, renova-se uma avaliação coletiva sobre o papel da mídia desde o direito de propriedade do espectro até a disputa de narrativas em defesa dos povos oprimidos. Palestinos, negros, mulheres, LGBT, trabalhadores e todos os demais que vivem sob as mais diversas formas de opressão tentam ainda timidamente criar meios para expressar tantas vozes estigmatizadas por veículos ligados a grandes corporações. A tarefa parece difícil, mas todos parecem vê-la como necessária na construção de um outro mundo.

Fonte: Ibase

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