Com grande adesão de estudantes da rede pública paulista, o Grito pela Educação Pública de Qualidade reuniu milhares de pessoas no centro da capital nesta quinta-feira (29) para exigir mais investimento em educação, melhores condições de trabalho para os professores e rechaçar a proposta do governador Geraldo Alckmin (PSDB) de fechar escolas e redistribuir os estudantes em escolas por ciclos – fundamental 1 ou 2 ou ensino médio. “Não sairemos das ruas enquanto Alckmin não desistir de fechar nossas escolas”, afirmou o estudante Gregory Fidélis, de 18 anos. Os organizadores do ato calcularam que havia 90 mil pessoas.
A escola estadual Professora Amélia Araujo, na Vila Carrão, zona leste da capital, vai perder o turno noturno, onde ele estuda. “Ainda não sei onde vou estudar. No período da manhã já tem várias salas ligadas e a situação vai piorar porque a escola vai receber alunos de outras escolas da região”, disse.
Alunos da escola estadual Vera Athayde Pereira, na Vila São José, zona sul, revelaram outra estratégia do governo Alckmin para acabar com escolas. “Não vai fechar, mas também não vai mais aceitar matrículas na 5ª série do ensino fundamental. É uma forma de matar a escola, porque logo não terá mais alunos nesse turno. Depois vai fazer isso com os outros”, disse o estudante Igor Rodrigues.
Os estudantes dançavam, cantavam, gritavam palavras de ordem e carregavam faixas contra a “desorganização” de Alckmin. “Aqui eu tô, aqui eu vou ficar. A minha escola ninguém vai fechar”, cantavam.
O ato deixou o vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e percorreu a Avenida Paulista, a Rua da Consolação, até a Praça da República, onde fica a Secretaria Estadual da Educação.
A presidenta da Apeoesp, o sindicato dos professores da rede estadual, Maria Izabel de Azevedo Noronha, a Bebel, destacou que a reorganização não tem proposta pedagógica, mas visa somente a reduzir os gastos com educação no estado. Ela lembrou que este é apenas o primeiro “Grito” e que o movimento vai além da reação à reorganização. “Queremos melhorias reais na escola pública. Valorização dos docentes, redução do número de alunos por sala, estrutura para realizar as atividades. Queremos discutir e transformar a educação paulista”, afirmou Bebel.
Pelos cálculos da Apeoesp, a chamada reorganização do ensino proposta por Alckmin vai fechar ao menos 163 unidades no estado. Na terça-feira (27), o governo divulgou uma lista de 94 e afirmou que pretende repassar os prédios às prefeituras locais ou outros órgãos públicos. Mas se o município não assumir a unidade, resultará em fechamento.
Mais cedo, em assembleia, os professores decidiram ocupar as diretorias de ensino no dia 5 de novembro, para fazer pressão contra a reorganização. Já no dia 10 os professores vão realizar uma manifestação no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, e querem que Alckmin desista de fechar escolas. Os docentes também aprovaram o boicote ao Saresp, exame que avalia a qualidade do ensino.
Para o presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo, a medida de Alckmin é claramente uma ação contra os trabalhadores. “É luta de classes. Essa medida ataca a escola dos filhos dos trabalhadores, prejudica ainda mais o ensino e prejudica a população”, afirmou.
A presidenta da União Paulista dos Estudantes (Upes), Ângela Meyer, acredita que a união demonstrada hoje será fundamental para reverter a reorganização das escolas. “É um momento importante, que uniu estudantes, professores, movimentos sociais e sindicatos. Não vamos aceitar a reorganização e o fechamento de escolas”, afirmou.
O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, reafirmou a intenção do movimento de ocupar as escolas que o governo Alckmin fechar. “O governador quer acabar com os sonhos da juventude. Se fechar alguma escola vamos ocupá-la, botar gente para dar aula e colocar para funcionar”, afirmou.
Fonte: Rede Brasil Atual